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Carioca, 25 Anos, Flamenguista, Engenheira Agrícola feliz e mal remunerada pela UFRRJ, recalcada por não cursar Arquitetura, Cantora frustrada, obsessiva e compulsiva musical, Perfeccionista, exagerada, aspirante à escritora ocasional em momentos de distúrbios e crises emocionais. Romântica nas horas vagas e irônica a qualquer hora, tem mania de hipérbole, e terceira pessoa.

domingo, 3 de julho de 2011

Fica pra Depois...

Era uma sexta-feira, era um dia como outro qualquer. Acordei as 7, fui à reunião do colegiado às 8, o que me tomou a manhã inteira, me fez matar a aula de sensoriamento remoto no IT, e me deixou com preguiça de encarar a enorme fila do bandejão pra depois andar até o IA para ter aula de TAAG, então fui embora, mas só pude pegar o maravilhoso 739 Seropédica-Campo Grande meio dia, o que me custaria a tarde inteira até chegar em casa. Tudo estava normal, como qualquer sexta-feira ruralina que se preze, a vontade de chegar em casa imperava... Ah, a casa dos meus pais, a comida da mamãe cheirando desde o pé da escada, aquele cheiro de casa limpa, nada de restos de maconha pelo chão e pontas em cima da mesa, nada de camisinhas espalhadas, garrafas de cerveja e aquele cheiro de ressaca do dia seguinte. Não.. é a casa da minha mãe, sabe, aquela que faz minhas vontades e que me mima o final de semana inteiro porque ficou cinco dias sem me ver... Aquela que acha que eu estudo a semana inteira e no final de semana tenho que descansar e me divertir. Era sexta-feira, sinônimo de farra, festa, bebedeira, gente legal, a não ser por alguns motivo. A semana seguinte é semana de optativa, tenho trabalhos pra entregar, plantas baixas pra fazer, listas de exercícios valendo nota e Ufa, muitas, mas muitas provas pra estudar. Ou seja, tudo o que eu deveria ter feito ao longo de um período inteiro e fiquei deixando pra depois (é, depois da choppada, depois da festa, depois do churrasquinho lá em casa sem motivo aparente) eu deveria fazer esse final de semana. Já são 4:30 da manhã e eu ainda não terminei nem metade do trabalho que é pra segunda-feira. Vou dormir porque amanha à tarde tem jogo, vou tentar ver no bar com o pessoal, e eu quero ver se faço o restante desses trabalhos depois, depois do jogo é claro...

domingo, 20 de fevereiro de 2011

. A história completa de Ritinha .

Ritinha fingiu a vida inteira mas nunca deixou de procurar a verdade. Sempre uma tosse de angústia na boca do peito. Sempre um motorzinho acelerado enjoado lá pro meio de algo que fica dentro. O olho ardia. A língua travava de vontade de mudar todo o discurso pronto e dizer apenas a verdade. Mas qual era a verdade? Então seguia fingindo. A vida inteira. Estudou um monte de coisa que se embaralhava na sua frente, mas fingia acreditar que aquilo a levaria para algum lugar. Um lugar com novos amigos e novos amores, talvez. Talvez essa fosse a verdade que purificaria tanta coisa sem sentido. Mas também não era isso porque, com esses amigos e amores, Ritinha seguia fingindo. De fingir estudar passou em tudo que fingiu se importar. De fingir curtir as festas e os amigos e aquilo tudo, Ritinha vivia em álbuns felizes e acabava feliz. De fingir amar, acabou chorando e doendo e escrevendo tantas coisas bonitas. Ritinha seguia fingindo o tempo todo. Às vezes, com medo de morrer soterrada por tanto teatro, Ritinha segurava firme no fundo dos olhos de alguém e dizia: a verdade é que, a verdade é que. E a pessoa, caso fosse assim como Ritinha, uma pessoa especial (porque quem procura essa verdade sempre é) só dizia: eu sei, eu sei. E era isso. Um momento especial, de verdade, sem a bola de pêlo presa na goela. Sem a tosse de angústia, tentando soltar algo pro ar entrar. Mas que algo? Mas que tosse? Então Ritinha ia ao psiquiatra e dizia não entender todas essas coisas como nuvens e casamentos e rodas fedorentas de caminhões bafando quente e infernal e abajures e cartões fidelidade e apostilas e tudo isso que acaba acontecendo porque acontece com todo mundo. Mas pra quem? Por quê? Qual é a verdade? Todos caminhando, todos com horários, todos de volta, cansados, o cérebro já bem gasto, agora podemos dormir, ufa, podemos dormir, pra quê? Pra amanhã mais e mais. E Ritinha ia. Como na hora do rush do metrô. Empurrada pela multidão sem verdade pra dentro de algo que leva pra algo. Pra onde? Eles precisam pagar as contas, eles precisam pagar o plano de saúde, diria sua mãe. Tá, e daí? Ter um problema sério nos ocupa de não ter o problema real. O problema real é que não dá pra calar a cabeça procurando a verdade. Que verdade? Quem inventou as nuvens? Porque as rodas de caminhões soltando fumaças quentes lembram tanto o inferno? E quem disse que a roda solta alguma coisa? Onde está a saída daqui? O tempo todo essa pergunta: onde está a saída daqui? Qual o caminho mais rápido para a minha cama, o silêncio, o escuro. Ritinha abraça as pernas, como criança, e se diz baixinho: não dá pra saber a verdade, não dá pra parar a cabeça, nada parece realmente o que é, hoje eu não disse o que realmente queria, aquelas pessoas não sentem aquilo que demonstram, eu pouco me importo com 70% dos preenchimentos do meu dia, mas é preciso chegar até amanhã. É preciso chegar. Ritinha se formou, trabalhou, namorou, viajou, casou, teve filhos, escolheu vestidos, escolheu pisos, escolheu tacos, escolheu flores, escolheu travesseiros, escolheu máquinas de lavar, escolheu o nome do neto, escolheu fazer a cirurgia, escolheu o sapato baixo, escolheu ver a novela ao invés do filme, escolheu dormir até mais tarde no dia que a empregada chegava mais cedo. Sem saber a verdade, Ritinha escolheu viver. No último segundo, até porque prometi que essa era a história completa de Ritinha, Ritinha descobriu algo que nunca mais poderá contar a ninguém. Só o que sabemos é que, em sua última sugestão do que seria a verdade, ela sorriu como sorrimos para um bebê quando ele se levanta bem compenetrado depois de desabar.

TB.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Não conta pra ninguém...

Todo mundo tem segredos. Ou pelos menos as pessoas interessantes. Nada mais chato que alguém mapeado, retilíneo, constante, bonzinho, doce, amável. Para mim, só vale a pena quem tem um cadáver no armário, uma sombra perigosa, um poço fundo. Pessoas simplórias são como muitos dias de sol seguidos: agradáveis e infinitamente entediantes.
É, a falta de obviedade desperta a curiosidade. Não é à toa que os mitos nascem da dualidade, da pouca incidência de clareza sobre sua personalidade: ninguém fica embasbacado pela simplicidade do seu Zé da quitanda (no máximo, enternecido). Somos fascinados pelo que não entendemos, amamos o desconhecido—por isso mergulha-se à noite, escala-se o Himalaia, come-se fora de casa, trai-se. É só quando ultrapassamos a barreira do familiar, do seguro, que nos tornamos verdadeiramente pessoas. Menos ingênuas, é certo, mas completas.
Ter segredos é viver intensamente, é a prova de que a realidade é muito mais do que nossos forçados sorrisos de bom dia, o escritório claustrofóbico, o saldo negativo. Ter segredos é ter coragem de arcar com o peso de ser único. Porque quem não se arrisca, não faz besteira, não vive: apenas gasta o tempo que deveria ser aproveitado apaixonadamente. Apenas caminha sobre os dias rumo à morte.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

. Pastel de Vento .

Nunca me contentei com nada. De certa forma, a constante vontade de tudo era motivo de orgulho, me tornava especial, inquietante. Até o instante em que que algumas coisas simplesmente não valem a pena. Não por serem pecaminosas nem por pertencerem ao terreno mimado da moralidade. Nem sequer se relacionam com consciência ou motivação menos racional, Nem por serem tristes ou cômicas. Não é isso. Apenas, essas coisas são grandes e atraentes pastéis recheados de vento, "Como vai você?" oferecido em esquinas barulhentas. Não sei quantas vezes errei por achar que esperar era estupidez. Paciência confundida com covardia. Ação era o que importava, e eu sempre seguia, no final, o prêmio pela empreitada. Mesmo não fazendo idéia de sua utilidade. E por isso joguei pessoas no lixo. E mesmo assim, agradecida aos céus por ser tão espontânea, passional. Hoje agradeço por ter aprendido que rogar atenção a quem não se importa não vale a pena. Ou pedir amor. Exigir amizade. Tomar porre de pinga ruim. Discutir com ignorantes. Paciência é a maior virtude, agora eu sei. Ainda bem que a tive para perceber que seu lugar é mesmo do outra lado da rua, com pessoas, falando sobre assuntos que em nada me interessam (por mais que eu tenha me esforçado). O Bom senso me devolveu a paz que quase perdi por recear aceitar que minha felicidade está na calma e não na sua cama. Sua infância mal ultrapassada. Seu armário trancado demais. Sua Falta de palavras. O Excesso de ausência. Tudo minou até a minha incrível capacidade de persistir: Não dá pra apostar o futuro numa mesa em que o maior prêmio é um orgasmo e um beijo na testa. Pra mim, você simplesmente não vale a pena.

sábado, 23 de outubro de 2010

. Universitárias.

- Alô, mãe?
- Oi, como você tá, minha filha?
- Tô indo.
- Indo? Indo pro estágio?

- Não, mãe. Não tô. Na verdade... Ah, vou contar logo. Eu saí do estágio. Saí, saí mesmo. E antes mandei aquele filho da puta, do meu orientador, tomar lá onde é mão única. Mentira, mãe. Mandei ele tomar no cu mesmo, enfiar o dedo e rasgar em cruz, porra 300 conto pra trabalhar igual uma corna. Eu sei mãe, eu sei que você disse pra eu ter paciência. Juro que tentei. Até tomei uns remédios tarja preta pra conseguir dormir, me acalmar, mas não funcionou. Aí eu fui pro mazinho mesmo e tomei um porre da pinga mais barata que ele tinha (Naja) pra tentar esquecer. É mãe, eu bebo, e porra, eu bebo pra caralho!!! Putz, foi mal mãe, eu também falo palavrão de vez enquando.  Aí mãe, me desculpa, mas eu fumei maconha, fumei mesmo, deu uma onda do cacete. Mas fica tranquila que eu não comprei não. O Gustavo, o namorado que você adorava tanto, ele conhece uns caras lá do alojamento que tinham uma estufa e... ah, deixa pra lá, eu terminei com ele mesmo. Quer dizer, ele me pegou com o Vinícius. É mãe, pegou a gente lá em casa, fazendo um movimento. O pior é que minha menstruação tá atrasada uns 5 dias. Enfim, mãe, é isso aí. Não sou virgem, não sou santa, posso estar grávida do Gustavo, ou do Vinícius (maldita hora que fui esquecer o anticoncepcional), gostei de fumar maconha,  saio todo dia pra beber com meus amigos, volto muito bêbada pra casa(isso quando quando eu durmo em casa neh?), e ainda por cima, perdi a porra da bolsa de iniciação e tô desempregada. Ah, não esquece de mandar o dinheiro do aluguel essa semana.
- Alô? Alô? Filha?
- Mãe?
- Oi, a ligação sumiu. Você disse alguma coisa?
- Disse. Disse que tá tudo ótimo e que vou pra casa nesse fim de semana, tá?
- Ótimo. Traz o Gustavo, viu? Um beijo, minha filha. Juízo.